Quem reza se salva

Posted by Cido on 5:41 AM 0 comentários


O evangelho de São Lucas apresenta Nosso Senhor como verdadeiro mestre da oração. Por 9 vezes Jesus é apresentado em oração.
Durante o Batismo (3,21) depois da pesca milagrosa e da cura do leproso (5,16), antes da escolha dos Apóstolos (6,12), antes da confissão de Pedro (9,18), durante a Transfiguração (9,28-29), no hino de júbilo (10,21), antes de ensinar o Pai Nosso (11,1), no Monte das Oliveiras (22,41), na Cruz (23, 34.46).
O Filho de Deus, criador do céu e da terra, se faz homem para nos ensinar a humildade e a grandeza da oração. Humildade pois com a oração nos apresentamos diante de Deus como mendigos de sua misericórdia e lhe pedimos a graça da salvação à qual não temos direito. Grandeza, porque só os anjos e os homens podem rezar. Os animais nunca rezam. “O homem fica maior, quando se põe de joelhos”.
Com a parábola do amigo insistente (11, 5-8) e com a da viúva e do juiz iníquo (18, 1-7), São Lucas nos transmite o ensinamento de Jesus que atravessará os séculos: é necessário rezar sempre e sem desanimar (cf. Lc 18,1).
Ou seja, trata-se de uma necessidade que encontra seu fundamento mais na nossa condição de criaturas do que na natureza de Deus. Por isto, seria muito inadequado pensarmos que Deus é como o amigo acomodado da parábola ou como um juiz injusto. Deus não precisa ser convencido de nada, somos nós quem precisamos desta insistência. Mas, se é assim, como podemos explicar a eficácia da oração?
Atualmente é bastante comum encontrarmos duas explicações distorcidas da oração.
  • a) Uma visão bastante difundida é a negação da providência divina. Para estes teólogos não existiriam milagres, pois Deus seria prisioneiro das leis da natureza que ele mesmo criou (cf., por exemplo, Andrés Torres Queiruga, Repensar o mal: da ponerologia à teodiceia, Paulinas, São Paulo, 2011, 328p.). A consequência é que a oração se torna uma realidade centrada no próprio homem.
  • b) No outro extremo temos uma visão supersticiosa e mágica da oração que pretendemudar a vontade de Deus. Como se Deus fosse caprichoso e como se suas decisões fossem veleidades arbitrárias e não desígnio amoroso.
Santo Tomás de Aquino nos ensina que a oração não tem por finalidade mudar a vontade de Deus (cf. Suma Teológica II-II, q. 83, a. 2). Na realidade com a oração somos nós quem entramos em seus planos eternos, pois Deus quando dispôs o seu plano de amor não decidiu apenas o que iria acontecer, mas também a forma como as coisas iriam acontecer. Por isto a oração é de grande eficácia pois existem alguns desígnios de Deus que são condicionais. Ou seja, é como se Deus tivesse dito desde toda eternidade: “Concederei esta graça se me pedirem e, se não me pedirem, não concederei”.
Brota, então, espontâneo o pedido do discípulo a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar!”
Nosso Senhor então nos ensina o “Pai Nosso”.
Santo Agostinho nos recorda que, se orarmos como convém, “não diremos nada que não se encontre nesta oração do Senhor” (Carta a Proba, 12, 22). E Santo Tomás de Aquino explicita: “Na Oração Dominical, não somente se pede tudo aquilo que podemos desejar retamente, como também a ordem em que devemos desejar: de tal forma que essa oração nos ensina não somente a pedir como também a normativa de nosso sentimentos” (Suma Teológica, II-II, q. 83, a. 9).
  • 1) Pedimos a glória de Deus (santificado seja o vosso nome) e a nossa (venha a nós o vosso reino).
  • 2) Pedimos meios para alcançá-la: a obediência (seja feita a vossa vontade – omitido em Lucas) e os auxílios (o pão nosso de cada dia nos dai hoje – pão seja espiritual, seja material)
  • 3) Pedimos que nos afaste os impedimentos: o pecado (perdoai-nos as nossas ofensas); a tentação (não nos deixeis cair em tentação); os castigos (livrai-nos do mal – omitido por Lucas).
Assim, a oração é, em primeiro lugar, o meio de darmos glória a Deus e de entrarmos na sua glória. Ou seja, a principal eficácia da oração é a nossa santificação.
É forçosa então a conclusão: não é possível alcançar a santidade sem rezar e rezar muito. É esta mesma verdade que, de forma muito direta e acertada, ensina Santo Afonso Maria de Ligório quando diz: Chi prega, certamente si salva; chi non prega, certamente si danna.
Eis as suas palavras por inteiro:
Terminemos este primeiro ponto, concluindo de tudo o que dissemos que, quem reza, certamente se salva e quem não reza, certamente será condenado. Todos os bem-aventurados, exceto as crianças, salvaram-se pela oração. Todos os condenados se perderam porque não rezaram. Se tivessem rezado, não se teriam perdido. E este é e será o maior desespero no inferno: o poder ter alcançado a salvação com facilidade, pedindo a Deus as graças necessárias. E, agora, esses miseráveis não têm mais tempo de rezar. (A Oração. Aparecida, Santuário, 2008, cap. 1, n. 28, pg. 42).
Fonte-Chisto Nihil  Praeponere